Reflorestamento para o Equilíbrio Ambiental no Brasil
Não é novidade falar sobre o quanto a proteção florestal é importante para a manutenção do equilíbrio ecológico, climático e social.
Trata-se de uma questão global, sendo necessário cada elo da sociedade fazer sua parte, tanto empresas que trabalham no setor, como governos, produtores rurais e a população devem se engajar para garantir a manutenção da vegetação nativa ainda existente, assim viabilizando um planeta mais sustentável para as futuras gerações, além de utilizar de forma responsável nossos recursos naturais, a fim de evitar seu esgotamento.
Nesta empreitada, o Brasil enfrenta um grande desafio: achar um ponto de equilíbrio entre seu papel como maior exportador agrícola do mundo e a preservação ambiental.
O governo anunciou no começo do ano corrente meta de acabar com o desmatamento ilegal na Amazônia até 2030, mas os números recentes das taxas de desmatamento, divulgados pelo PRODES/INPE, mostram que apesar de termos uma queda dos 13.038 km² para 9.001 km² nos últimos 3 anos, ainda estamos longe da baixa histórica de 4.517 km² em 2012, o que gera preocupação e coloca em risco esse equilíbrio. E essa questão é ainda mais crítica considerando as emissões de gases de efeito estufa (GEE).
Desta forma, além de reduzir estes números, algo que é pouco abordado é a necessidade de evoluirmos na restauração e reflorestamento dessas áreas, sendo um fator fundamental neste balanço ambiental.
Dados publicados pelo Observatório da Restauração mostram um esforço crescente neste sentido, indicando que, em fevereiro de 2021, o Brasil contabilizava 20,4 milhões de hectares em processo de recuperação, sendo 11,0 milhões provenientes do processo de regeneração natural da vegetação, e 9,4 milhões de iniciativas de reflorestamento [1], o que sinaliza um avanço muito significativo, que deve ser considerado para todos os cálculos de projeção de emissões e compromissos de mitigação, uma vez que mais áreas de vegetação representam maior capacidade de captura de carbono.
Para entender a relevância deste número, vale destacar que o PRODES mapeou um total de 13,3 milhões de hectares desmatados desde 2008 [2], marco regulatório ambiental previsto no Código Florestal. Ou seja, o Brasil já registra uma área restaurada que é 54% superior ao total desmatado na Amazônia nos últimos 16 anos. Contudo, o programa de monitoramento do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) possui dados desde 1988, que somam 49,1 milhões de hectares. Sobre este total, a área de reflorestamento registrada pelo Observatório representa 41%, mostrando que ainda há grande potencial de recuperação.
Graças a estes resultados, o Brasil pode ser considerado destaque não só pelo tamanho de suas florestas, mas também pelo seu potencial de recuperação. Comparando com outros países:
- China: conduz um dos maiores programas de reflorestamento, com mais de 40 milhões de hectares restaurados no projeto “Great Green Wall” [3].
- Índia: possui como meta restaurar 26 milhões de hectares até 2030 [4].
- União Europeia: Busca plantar 3 bilhões de árvores até 2030 como parte de suas metas ambientais [5].
Esses países, apesar de seus louváveis esforços, lidam com contextos diferentes do Brasil, uma vez que além de sua extensão continental, possui o Bioma Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, e o Bioma Cerrado, ambos sob forte pressão para expansão agrícola. Esse cenário exige não apenas políticas públicas eficazes, mas também o fortalecimento da fiscalização, assistência técnica qualificada, criação de incentivos econômicos para práticas agrícolas sustentáveis e integração com os esforços de restauração da vegetação. De acordo com uma publicação da UFMG, apoiados pelo Observatório do Código Florestal (OCF), os imóveis rurais brasileiros têm cerca de 20 milhões de hectares de passivos ambientais, sendo 3 milhões de Área de Proteção Permanente (APP) em déficit, essenciais para preservação dos recursos hídricos, e 17 milhões em áreas de Reserva Legal [6].
A conexão entre reflorestamento e boas práticas agrícolas é essencial para garantir que a recuperação de áreas degradadas seja viável e duradoura.
A promoção de atividades como a agroecologia, rotação de culturas e o manejo sustentável do solo pode reduzir a pressão sobre florestas nativas, minimizando o desmatamento e promovendo um ciclo produtivo mais harmônico. A adoção dessas técnicas, aliada ao incentivo de políticas públicas adequadas é uma fórmula de sucesso para a garantia da preservação ambiental, não apenas aumentando a produtividade no campo, mas também contribuindo para os objetivos globais de mitigação de emissões e ajudando a reduzir a parcela do setor agrícola nestas análises.
Os números do PRODES e do Observatório, combinados com as exigências da EUDR, ressaltam a necessidade urgente de acelerar e expandir os programas de reflorestamento por aqui. A restauração florestal, aliada a práticas agrícolas sustentáveis, também é essencial para garantir o cumprimento de legislações ambientais nacionais e manter o acesso aos mercados internacionais. Com uma colaboração mais intensa entre governo, setor privado e sociedade civil, o Brasil pode se consolidar como um líder global na recuperação de áreas degradadas e na preservação de seus ecossistemas únicos.
A trajetória para um equilíbrio ambiental ainda é longa, mas os primeiros passos já foram dados. Resta ampliar a escala e integrar as diversas ações para garantir que o país atinja o equilíbrio entre desenvolvimento econômico e conservação ambiental.
Referências
[1] Observatório da Restauração e Reflorestamento. Acesso em 23/09/2024;
[2] Dados adaptados do PRODES, INPE, 2024. Acesso em 23/09/2024;
[3] GREENFIELD, Dra. Emily. Como a China esta se tornando um deserto verde. Sigma Earth, 2022. Acesso em 24/09/2024;
[4] Relatórios oficiais do governo indiano e seus compromissos climáticos estão disponíveis em portais internacionais sobre o Acordo de Paris, como no site da UNFCCC.
[5] The European Green Deal. European Commission, 2024. Acesso em 24/09/2024;
[6] Boletim do Balanço do Código Florestal. Observatório do Código Florestal, 2022. Acesso em 30/09/2024.
AUTOR
Pedro Moré Garcia
Coordenador de Sustentabilidade